04/03/2011

A INCRÍVEL HISTÓRIA DO NÚMERO ZERO

Apresenta-se o ZERO. Ninguém dá nada por ele, mas é um dos mais extraordinários personagens do mundo da matemática. Nasceu na Índia, e o seu baptismo foi uma cerimónia complicadíssima, que durou anos e anos… Os Árabes puseram-lhe o nome de sirf”, que significava vazio. Depois, os matemáticos traduziram o nome para latim e passaram a chamar-lhe, “zefirum” (embora outros lhe chamassem cifra). Com o tempo, zefirum, acabou em zero, que é uma palavra mais fácil de dizer do que zefirum…   Durante muitos séculos, no entanto, muitos matemáticos teimaram em chamar-lhe cifra. Mesmo no século XIX, o grande matemático Gauss, escrevia cifra, e não “zero”.  Os árabes, foram buscar à Índia, o misterioso zero, símbolo que representava um vazio. O problema tinha surgido quando, na Índia, quiseram escrever os números (não se podiam guardar todas as contas na cabeça, por muito boa memória que houvesse naqueles tempos de boa memória…). Ora, era fácil dizer, por exemplo, que um certo rebanho tinha quinhentos e um carneiros (isto é, cinco centenas, nenhuma dezena e uma unidade); mas como escrever isso? Se só existissem, o símbolo 5 e o símbolo 1, e se quisesse colocar o cinco na coluna das centenas e o 1, na coluna das unidades, como se poderia escrever que, entre os dois, havia uma segunda coluna, a coluna das dezenas, sem nenhuma quantidade, isto é, “vazia”? Então zero apareceu para resolver um problema da escrita dos números.  Daí em diante, a vida do zero foi uma verdadeira aventura. Muitos povos ignoraram-no durante séculos (a numeração romana, por exemplo, não tem zeros): para que é que servia um sinal que não representava quantidade nenhuma? Ninguém vê zero vacas num campo nem zero estrelas no céu… Para quê contar, ou medir, nada? Na idade média, o pobre zero, chegou mesmo a ser considerado, como uma criação do diabo! 
        Hoje a matemática não existiria sem o zero. Apesar disso, ele continua a não ser um número como todos os outros. É um personagem estranho e original, que troça permanentemente do nosso senso comum: não é um número positivo, nem um número negativo, e é duas coisas ao mesmo tempo; é o único número que é igual ao seu oposto; na adição e na subtracção, comporta-se como se lá não estivesse; na multiplicação, pelo contrário, absorve todos os outros factores; por fim, quando numa divisão, é o divisor, torna-a completamente indefinida…
       Não se pode dizer que, quanto a comportamento, o zero seja uma pessoa, isto é, um número certinho…
 Manuel António Pinha/Pedro Proença
Pequeno Livro de Desmatemática